DÉCADAS DE 60 A 80
De alguns milhares a poucos milhões de CDR/dia coletados na rede nacional
O crescimento da rede de centrais eletromecânicas demandava novas técnicas de planejamento e encaminhamento de tráfego entre as centrais e entre as Operadoras.
O tráfego local, de menor valor de receita para as Operadoras, era monitorado, basicamente, por meio de contadores de intensidade de tráfego nas rotas e nos órgãos de controle das centrais.
Consoante com a tradição europeia de análise de tráfego, a Ericsson, provedora, à época, de parte importante da rede brasileira, desenvolveu, na década de 70, um método de levantamento e análise da probabilidade de completamento das chamadas em suas centrais de comutação eletromecânicas ARF, via as mesas de monitoração de trafego real – OBR.
As mesas OBR continham lâmpadas por onde se liam os dígitos “discados” pelas assinantes por meio de fios conectados aos relés de memória de um conjunto especial de registradores locais, passíveis de serem tomados por qualquer assinante da central – REG-K.
Observando estas lâmpadas, um operador decodificava o número discado em código 2 entre 5 (os relés tinham os pesos 0, 1, 2, 4 e 7 de forma que, pela combinação de 2 deles, representava-se o número discado de 0 a 9). Um conjunto adicional de lâmpadas na mesa acusava qual o resultado da tentativa de chamada, se completada ou não, e porque não. Desta forma, eram gerados, manualmente, e por observação direta das chamadas cursadas nos REG-K, registros equivalentes ao CDR – Call Detail Record, para efeitos de posterior contabilização, construção e análise de indicadores de desempenho da rede e da qualidade dos serviços.
Os altos custos das redes interurbanas e internacionais implicavam em tarifas mais altas e a cobrança já era feita por chamada
O serviço local era cobrado, em geral, via contadores de pulsos gerados em períodos proporcionais à tarifa do tipo de tráfego, porém, no tráfego de longa distância, os altos custos das redes interurbanas e internacionais implicavam em tarifas mais altas, e a cobrança já era feita por chamada, inicialmente registradas pelas próprias telefonistas dos Centros IU, e depois diretamente pelas centrais de trânsito, com a coleta e armazenagem dos CDR via uma interface entre as memórias dos registradores a relé e gravadores de fitas magnéticas.
No início da década de 80, a Embratel, dona das principais centrais de transito e circuitos de longa distância no Brasil, desenvolveu o sistema DDD-X para tratar os CDR com o objetivo de melhorar o desempenho das redes e a qualidade dos serviços interurbanos e internacionais. Para tanto, mensalmente registrava os dados das tentativas de chamadas completadas e não completadas em três períodos de maior movimento (PMM da manhã, tarde e noite) e os processava de forma centralizada, gerando diversos relatórios de interesse de tráfego e de indicadores de desempenho.
O Sistema DDD-X, complementado pelos sistemas DDD-Y e PAB, voltados, respectivamente, à análise da qualidade do acesso às centrais de trânsito, não coberto pela bilhetagem, e ao gerenciamento das perdas nos assinantes de destino (assinante B), estabeleceram no Sistema Telebrás uma forte cultura de análise da qualidade dos serviços sob a ótica da probabilidade de completamento ou não das tentativas de chamadas, das causas das degradações dessa qualidade e do impacto na receita do abandono de tentativas.
Apoiados nesses sistemas, os CRCC – Ciclos de Reuniões de Completamento de Chamadas, coordenados pela Telebrás junto às empresas polo e a Embratel, orientaram estratégias e foram fundamentais para o Plano Nacional de Descongestionamento, em resposta a crise de capacidade de rede enfrentada na segunda metade da década de 80, consequência de políticas de governo de restrição de investimentos.
DÉCADA DE 90
Algumas dezenas de milhões de CDR/dia por Operadora
No início da década de 90, a Telesis Sistemas em Telecomunicações, precursora da Vísent, desenvolveu um sistema inovador de coleta e tratamento informatizado de dados das chamadas telefônicas sobre centrais eletromecânicas.
Para esta solução, desenvolveu uma placa microprocessada, a PAC3216, com 32 pontos de leitura do estado dos relés e 16 de atuação pela aplicação de terra sobre os mesmos. De forma semelhante à mesa OBR, as placas PAC3216 coletavam os códigos 2 entre 5 dos relés de memória e geravam os CDRs para todas as tentativas de chamadas.
As PAC3216 interagiam com um PC por meio de uma rede proprietária de comunicação, desenvolvida sobre uma interface multiserial RS-485 e um exclusivo protocolo de gerenciamento, por onde enviavam os dados das chamadas (CDR) e recebiam comandos para atuação sobre a lógica da central, para, por exemplo, possibilitar a restrição de tráfego para direções de difícil acesso evitando efeitos “bola de neve” com o crescimento realimentado de ocupação espúria.
Uma central típica era equipada com mais de duas centenas de placas, acomodadas em um bastidor e conectadas a registradores distribuídos em filas de bastidores por meio de cabos CI com tamanho médio de 30 metros.
Inicialmente stand alone e baseado em MS-DOS, o sistema evoluiu para uma versão centralizada baseada em Unix e Banco de Dados SQL, batizada de ATGR, implantada, em um primeiro momento, nas centrais de transito ARM da Telepar.
Com a criação da Vísent em 1996 e a digitalização das centrais, o ATGR foi evoluído para tratar CDRs gerados pelas CPAs para efeitos de Billing, dispensando a onerosa infraestrutura de coleta sobre as lógicas a relé.
Na privatização do setor, a Anatel adotou, como parte das obrigações de seu PGMQ – Plano Geral de Metas de Qualidade, a coleta, análise e envio de Indicadores de desempenho semelhantes aos do DDD-X, além de sua sistemática de medições mensais agendadas nos PMM, utilizando, porém, CDRs gerados pelas centrais digitais.
O ATGR passou a ser então uma das principais ferramentas para o cumprimento dessa obrigação, além de apoiar diversos outros processos operacionais nas Operadoras, sendo a própria Embratel uma das primeiras a adquiri-lo para o SGDT – Sistema de Gerência do Desempenho Telefônico, em substituição ao DDD-X.
Nesta mesma época, a partir de uma consultoria do especialista em gerencia de redes Guilherme Nunes, e entendendo o potencial do tratamento de um fluxo de CDR para a qualificação do impacto de falhas e degradações na rede em seu NOC – Centro de Gerencia, a Embratel contratou a Vísent para fornecimento do sistema SOLQ – Supervisão On Line da Qualidade.
Segundo os requisitos da Embratel, o SOLQ deveria gerar alarmes em tempo quase real de exceções de desempenho em recursos físicos (centrais, rotas e links) e lógicos (códigos numéricos e direções de tráfego). A Vísent fez então uma parceria com Guilherme Nunes para a especificação conjunta de uma solução, baseada na plataforma ATGR, que identificasse dinamicamente os recursos a serem gerenciados, e alarmasse situações de exceção, a partir de testes estatísticos confiáveis do valor medido contra o valor esperado de um conjunto de variáveis de controle para cada recurso. A partir dessa especificação, a Vísent desenvolveu, e licenciou para a Embratel, o módulo de alarmes do ATGR para o SOLQ da Embratel, embrião do futuro CDRView Detecção.
Associando, aos algoritmos de detecção e valoração de exceções do Guilherme Nunes, a capacidade de levantamento automático e dinâmico da base de dados de recursos físicos e lógicos, e de potenciais assinantes ofensores de PAB – Perdas no Assinante B, a solução SOLQ desenvolvida pela Visent foi pioneira neste tipo de identificação qualificada de oportunidades de melhoria de QoS , e de salvamento de receitas que seriam perdidas com o abandono de tentativas.
O momento de mercado exigia uma mudança do foco da rede para o assinante
A partir da privatização, a Embratel apresentou a Vísent um novo desafio. Como o SGDT poderia gerenciar os serviços no nível de assinantes, seus perfis e agrupamentos, e não apenas no de rotas ou códigos de área?
Um novo paradigma deveria ser adotado. A abordagem convencional era a de receber os CDR da Mediação em formatos proprietários, decodificar, extrair as informações necessárias, identificar os registros para um conjunto de recursos previamente cadastrados como relevantes, contar, para períodos pré-definidos, em geral de 5, 15 ou 30 minutos, quantos desses registros atendiam certas regras sobre seus campos e armazenar tais contadores, por recurso, em um banco de dados relacional que ficava disponível para a extração de relatórios sobre o desempenho desses recursos.
Ou seja, a contagem de eventos era feita no momento do recebimento dos CDR, para recursos e períodos previamente definidos, garantindo um tempo mínimo de resposta para as consultas, pois os contadores já estavam disponíveis no banco de dados.
O problema é que era necessário definir quais os recursos deveriam ser observados e em que períodos. É imediato que seria impossível a construção de uma base de dados contemplando todas combinações de recursos lógicos, como códigos, áreas numéricas e, principalmente, assinantes, mesmo considerando reduções por interesse de tráfego.
A Vísent então inovou mais uma vez mudando o paradigma e armazenando, não contadores para recursos pré-definidos, mas os próprios CDRs, deixando para contar os eventos no momento de cada consulta, apenas sobre os registros referentes aos recursos e períodos então definidos.
Surgia assim o CDRView, com sua capacidade, ainda única, de tratar todo e qualquer recurso em qualquer período de tempo sobre o fluxo contínuo de CDR ou sobre suas bases históricas, permitindo análises ad hoc de comportamentos e impactos, fundamentais para o entendimento de certos fenômenos e geração de insights sobre as novas necessidades dos usuários.
Os mesmos algoritmos de detecção de exceções do Guilherme Nunes utilizados pela Vísent foram adotados pela Telesc no Sistema SAB – Sistema de Análise de Bilhetes, incorporado pela BrT para o serviço fixo e, mais tarde, ao GDBO, sistema de análise de CDR adquirido com a Telepar, e que teve como base de sua especificação o ATGR instalado em suas trânsitos.
Na RFP para implantação da sua rede móvel GSM, a BrT inseriu o fornecimento de uma solução para análise on line de CDR, que atendesse tanto a Anatel como os processos operacionais apoiados pelo GDBO/ SAB.
A Ericsson, incluiu então em sua proposta as soluções CDRView Análise e Detecção, e as mesmas foram implantadas na rede móvel da BrT e, com a fusão com a Oi, expandidas para toda a rede nacional da nova operação.
DÉCADAS DE 10 A 20
Alguns bilhões de CDR/dia por Operadora
Com o crescimento da telefonia móvel, dos serviços de mensagens e de dados em banda estreita e larga, novos desafios se apresentaram, endereçáveis pela análise dos CDR gerados pelas novas plataformas.
O Marketing precisava conhecer cada vez melhor os comportamentos dos usuários e suas percepções dos serviços, para identificar novas necessidades, segmentar e dimensionar mercados, desenhar e promover ofertas competitivas e evitar churn.
O Planejamento precisava conhecer os novos perfis de uso para quantificar as capacidades e tecnologias demandadas.
A Operação precisava identificar, qualificar e priorizar os novos tipos de problemas com relação ao impacto no cliente e no negócio.
A Garantia de Receita precisava conhecer a resposta aos novos modelos de negócio e os riscos de evasão de receita.
O Regulatório precisava atender as novas exigências e compromissos com o governo e outros stakeholders.
E, principalmente, uma nova sociedade digital pedia novos serviços, demandando novas infraestruturas, novos modelos de negócio e novos processos e plataformas de gerenciamento.
A Vísent continuou inovando, adequando o CDRView e desenvolvendo expertise para atender a estas demandas
Inicialmente, a Vísent modelou os CDRs da Rede Inteligente da Embratel, com foco na gerência por serviço e na qualidade oferecida em cada um deles aos seus usuários.
Em seguida, evoluiu o CDRView para suportar o serviço móvel celular e forneceu para a Americel e a Telemig Celular a primeira modelagem ainda na tecnologia TDMA.
Com a aquisição da Americel pela Claro, o CDRView foi selecionado como a plataforma de análise de CDR. Na sequência, a Claro solicitou a adequação da plataforma para a tecnologia GSM e os serviços SMS/MMS e GPRS/Edge.
Neste interim, outras Operadoras adquiriram a plataforma, como a Nextel, a Sercomtel, a CTBC/Algar, a TIM Sul, e as inseriram em diversos de seus processos chaves.
Quando a TIM Brasil centralizou seus sistemas de bilhetagem, expandiu a solução CDRView para toda a rede nacional, ampliando a quantidade de usuários da plataforma e contratando diversas inovações, tais como a recomposição de CDRs fatiados e o processamento em ondas, para mitigar o efeito de atrasos irregulares dos arquivos de registros.
O CDRView Detecção acompanhou toda esta evolução, tornando-se ferramenta essencial para fornecer ao NOC informações sobre o impacto das falhas, exportando alarmes de degradação de qualidade para correlação, na Gerencia de Falhas, com os alarmes de elementos de rede.
A consolidação dos grupos Vivo/GVT, Claro/Embratel/NET, Oi e TIM, em torno de ofertas completas de serviços fixos e móveis de voz, mensagens, dados e vídeo, acirrou a competição e intensificou a necessidade dos processos de negócio de Marketing, Gestão de Clientes, Interconexão e Garantia da Receita, disporem de mais informações sobre os comportamentos dos clientes, suas experiências (QoE) e necessidades.
Mais gerenciais que operacionais, tais processos demandavam requisitos diferentes para as soluções, o que levou a Vísent a desenvolver a plataforma MetricView, como um complemento analítico, amigável e intuitivo, associando informações de outras bases e fontes de dados a contadores pré-processados na plataforma CDRView, e provendo facilidades típicas para o ambiente de negócios, como dashboards, análises gráficas de padrões e tendências, simulações, georreferenciamento, dentre outras.
Com o crescimento da importância do tráfego de dados, tanto em banda estreita, nas aplicações M2M, como para a conectividade de POS, quanto de banda larga, no acesso à Internet, Redes Sociais, serviços OTT e IoT, a Vísent tem continuado a adequar suas soluções a essas tendências, confirmando permanentemente o compromisso de gerar valor para seus clientes, desvendando comportamentos, desempenhos e percepções de qualidade a partir do tratamento de registros de uso das redes e dos serviços.
A Vísent, tendo participado, como visto, ativamente em diversos momentos da história das Operadoras na busca pela excelência na prestação de serviços, permanece em seu compromisso de uma parceria próxima, confiável e flexível, considerando sua capacidade de tratar, on-line e em tempo-quase-real, dezenas de bilhões diários de registros de uso de todos os serviços e tecnologias presentes na rede brasileira, acumulando uma base extensa de conhecimentos sobre os conteúdos e as possibilidades desses registros no apoio a processos críticos de análise dos comportamentos dos usuários, do desempenho das redes, da qualidade dos serviços e da monetização do negócio de seus Clientes.
O FUTURO PRÓXIMO
Dezenas, ou centenas, de bilhões de CDR/dia por Operadora?
Big Data, 5G, SDN, SON, Virtualização e Empresas Digitais já apontam para a necessidade de um gerenciamento com requisitos ampliados, onde, ao estado histórico e atual da rede, sejam associadas análises de contextos, de mobilidade, de interesses, comportamentos e sentimentos, essenciais para o entendimento de cenários avançados de interatividade, produção e fruição compartilhadas de conteúdo, aceleradas por tecnologias como realidades virtual e ampliada, touch e redes sociais.
Atenta a essas tendências, a Vísent, tem definido um roadmap para suas soluções contemplando:
Arquitetura CDRView / Hadoop / BI – aproveitando o que cada plataforma tenha de melhor nas fases de extração, retenção, redução, tratamento e apresentação.
Barramento de serviços para integração SOA – permitindo o acesso de aplicações não-Vísent às bases de dados e as informações
Modelos de negócio baseados em nuvem e virtualização (SaaS, DaaS, IAAS) – abrindo as soluções para outros níveis de usuários e aplicações, canais e parceiros.
Tratamento concomitante de CDR, logs, redes sociais, CRM e News – gerando insights sobre contextos e oportunidades e, principalmente, valor para seus Clientes, verdadeiros parceiros nesta história que ainda está longe de sua conclusão.
fonte: https://www.linkedin.com/pulse/re-evolu%C3%A7%C3%A3o-do-cdr-ricardo-nascimento?published=u
Autor: Ricardo Nascimento